segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Questões ambientais ENEM 2018

A degradação dos solos 

Técnicas inadequadas de uso do solo, desmatamento, irrigação sem os devidos cuidados, poluição por agrotóxicos e erosão são alguns dos problemas responsáveis pela degradação dos solos.

As atividades agropecuárias (agricultura e pecuária) ampliam a erosão, tornando-a mais intensa do que em condições naturais.

A vegetação é um importante instrumento de defesa do solo contra a erosão. Os restos vegetais também têm papel importante, pois retêm a água e dificultam o escoamento superficial. Com o desmatamento, ou seja, a retirada da vegetação, o solo fica desprotegido.

O impacto das gotas de chuva sobre o solo sem cobertura vegetal e bastante prejudicial. Se o terreno é inclinado e a chuva é muito intensa, ocorrem as enxurradas, que transportam o material para as áreas mais baixas, como o leito de um rio, podendo provocar assoreamento.

Outra consequência do desmatamento e da atividade agropecuária é a compactação da camada superficial do solo pelo uso de máquinas pesadas e pelo pisoteamento do gado, o que impede a boa absorção da água e dos nutrientes.

 

Efeitos da erosão

A erosão também é responsável pela degradação biológica, isto é, pela eliminação de insetos, minhocas, bactérias e outros pequenos organismos que vivem no solo e são fundamentais para a produção e reprodução dos nutrientes das plantas.

Em todo o mundo, a erosão traz problemas ambientais para as áreas rurais e ocorre com maior intensidade no norte e no centro da África, nas áreas mais elevadas da América do Sul e em grande parte do sul da Ásia.

 

Efeitos da queimada

Uma técnica ainda muito empregada no campo, principalmente no Brasil, para retirada da vegetação natural e a implantação de cultivos e pastagens é a queimada.

Em uma primeira avaliação, a queimada aparentemente beneficia um acréscimo de nutrientes para o solo. No entanto, os prejuízos são maiores. O fogo elimina nutrientes, micro-organismos, insetos e resíduos vegetais, deixando o solo descoberto sujeito à erosão.

 

Produtividade – fertilizantes químicos e agrotóxicos

É inegável a contribuição dos fertilizantes químicos para o aumento da produção mundial de alimentos e matéria-prima. Os agrotóxicos – empregado para combater ou controlar ervas daninhas, insetos, bactérias, fungos e outros seres vivos, chamados popularmente de pragas – podem prejudicar o desenvolvimento das culturas, mas têm importante papel na produção agrícola mundial.

 

O uso inadequado de produtos químicos

O uso excessivo ou inadequado de produtos químicos pode degradar o solo e poluir águas subterrâneas e de rios. Além disso, muitos agrotóxicos são prejudiciais para os seres humanos e os animais.

Com o uso contínuo de agrotóxicos, as pragas evoluem e tornam-se mais resistentes a eles. Para combater essa resistência, a dose e a potência desses venenos são aumentadas continuamente.

O emprego inadequado de produtos químicos no campo também pode provocar o surgimento de novas pragas, a eliminação de insetos predadores de pragas, a morte e redução de aves e animais que se alimentam das pragas, e poluição atmosférica.

Em muitos países os fertilizantes químicos e os agrotóxicos estão dando lugar a novas técnicas e produtos. Adubos orgânicos vêm sendo usados, ainda em pequena escala, por meio do uso de predadores naturais e de espécies de plantas mais resistentes, também auxiliam na redução do uso de agrotóxico.

 

Impactos ambientais resultantes da irrigação

O sistema de irrigação foi desenvolvido com o objetivo de aumentar a produção de alimentos em áreas com escassez de água O aperfeiçoamento dessa técnica proporcionou a construção de canais de distribuição que conduzem a água dos rios até as plantações.

Como avanço tecnológico, ampliaram-se as áreas irrigadas em todo o mundo e consequentemente as agressões ao meio ambiente. Sendo os principais impactos:

  •  Alagamento ou encharcamento de áreas de cultivo, como consequência do uso de técnicas inadequadas;
  • Acúmulo de fertilizantes em rios que abastecem as áreas de plantações;
  • Salinização decorrente do excesso de irrigação;
  • Proliferação de insetos e fungos prejudiciais às plantações;
  • Desperdício, pois grande parte da água usada na irrigação é perdida por evaporação ou por infiltração.

domingo, 23 de setembro de 2018

Marxismo Cultural

Marxismo cultural é uma estratégia discursiva utilizada predominantemente pela direita brasileira para anular as práticas opostas aos seus objetivos, as colocando sob a classificação de “marxistas”, “de esquerda”, “comunistas”. Esta estratégia generaliza todas as práticas não conservadoras como de esquerda radical ou manipuladas pela esquerda radical.

Como isso pode acontecer?

Virou moda dizer que existe um plano maquiavélico por trás do governo do PT, uma escalada alternativa para a sociedade comunista que seria pautada em pequenas mudanças gradativas na cultura e nas instituições ao invés da tomada do poder à força, modelo de implantação do comunismo supostamente fracassado no século passado. Este argumento é encabeçado por personalidades como Olavo de Carvalho, pelo site Mídia Sem Máscaras, por Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino.

É comum ler que tal estratégia (a da dominação pela cultura) nasceu das análises culturais da Escola de Frankfurt e do filósofo marxista Antonio Gramsci e seu conceito de hegemonia cultural.

Segundo Olavo de Carvalho, em seu artigo de 2002 chamado “Do Marxismo Cultural“, escrito em sua coluna no jornal O Globo,

um cérebro marxista nunca é normal. O filósofo húngaro Gyorgy Lukacs, por exemplo, achava a coisa mais natural do mundo repartir sua mulher com algum interessado. Pensando com essa cabeça, chegou à conclusão de que quem estava errado não era a teoria: eram os proletários. Esses idiotas não sabiam enxergar seus “interesses reais” e serviam alegremente a seus inimigos. Estavam doidos. Normal era Gyorgy Lukács. Cabia a este, portanto, a alta missão de descobrir quem havia produzido a insanidade proletária. Hábil detetive, logo descobriu o culpado: era a cultura ocidental. A mistura de profetismo judaico-cristão, direito romano e filosofia grega era uma poção infernal fabricada pelos burgueses para iludir os proletários. Levado ao desespero por tão angustiante descoberta, o filósofo exclamou: ‘Quem nos salvará da cultura ocidental?’

Olavo ainda afirma que esta foi uma sacudida que os próprios socialistas tomaram, após se depararem com a impossibilidade da revolução comunista internacionalista. “Stálin recomendava que os partidos comunistas ocidentais recrutassem, antes de tudo, milionários, intelectuais e celebridades do ‘show business'”, diz ele sem apresentar suas fontes.

Gramsci e a revolução cultural, Marcuse, Adorno e Horkheimer e a Escola de Frankfurt, são nomes responsabilizados por Olavo pela destruição da cultura ocidental, único objetivo de tais pensadores. “Como não falava em revolução proletária nem pregava abertamente nenhuma truculência, a nova escola foi bem aceita nos meios encarregados de defender a cultura ocidental que ela professava destruir”. O plano era perfeito até encontrarem a perspicácia do mestre Olavo.

Um de seus discípulos, Felipe Moura Brasil, em artigo para seu blog na Veja, cita Linda Kimball para embasar sua visão do estado cultural contemporâneo, “Lukács instalou um programa de educação sexual radical e palestras sexuais foram organizadas; foi distribuída literatura contendo imagens que instruíam graficamente os jovens a enveredar pelo ‘amor livre’ (promiscuidade) e pela intimidade sexual (ao mesmo tempo que a mesma literatura os encorajava a ridicularizar e a rejeitar a ética moral cristã, a monogamia e a autoridade da igreja). Tudo isso foi acompanhado por um reinado de terror cultural perpetrado contra os pais, sacerdotes e dissidentes”.

Além dessas citações, o vídeo abaixo ilustra o que vem a ser o marxismo cultural na perspectiva destes rapazes.

A televisão, os livros escolares, as músicas, a arte em geral, e toda a educação, assim como a justiça e a estrutura do Estado, estariam sendo alterados microscopicamente para, depois de um tempo de modificações acumuladas, promover um momento ideal para a revolução comunista, que dessa vez seria silenciosa e sem derramamento de sangue. Uma enganação que faz quase todo mundo de presa, uma ilusão que cobre a realidade.

O mundo neutro antes do marxismo cultural

Segundo estas personalidades, haveria um mundo puro, neutro, imparcial, que é constantemente corrompido pela intenções comunistas de grupos de esquerda ou aliados. Ou seja, o marxismo cultural é aplicado sobre um mundo de pureza, de liberdade e de reflexão racional e deliberativa, causando caos e anestesia mental sobre aqueles que estão sob seu domínio.

Porque eu digo isso? Quando nós afirmamos que existe uma ilusão que domina a vida das pessoas e que essa ilusão é causada por determinados grupos que insistem em impor uma determinado modo de vida, o que nós estamos dizendo é que sem essa ilusão imposta por este grupo maquiavélico, o modo de vida original (e natural) seria novamente vivido. Ou seja, existe uma verdade, uma forma livre de se viver, e existe uma imposição exterior e estranha às vontades das pessoas. A partir dessa afirmação é possível concluir duas coisas:

1) As pessoas não são agentes sociais como condição sui generis. Elas podem ser agentes sociais desde que estejam livres de amarras (ilusões) impostas exteriormente (como o marxismo cultural).

2) Se a intenção do marxismo cultural é a implementação do comunismo de forma gradual e se ele é o objeto estranho que impõe um dado modo de vida às pessoas e as controlam (como o Marx da imagem no topo do texto), então a vida na sociedade capitalista é considerada o modo de vida natural, porque seria a condição perfeita para a livre-escolha e, portanto, para a primazia da vontade individual sobre a vontade coletiva.

Agentes sociais

A percepção da unidade biológica humana enquanto um sujeito está relacionada com a noção de que ele, o sujeito, é um ser sob o mando soberano. O sujeito é aquele que está assujeitado. Ao mesmo tempo, o sujeito é aquele que é moldado conforme o poder que ele está submetido e que o reproduz na mesma medida em que foi constituído.

O agente social, pelo contrário, é atividade constante. Ele não é moldado pelo mundo exterior pura e simplesmente: ele é um alguém que altera o mundo na mesma proporção em que é constituído por ele. O agente social é aquele que toma posições e altera a perspectiva da estrutura social, mesmo que microscopicamente. Ele não é manipulado, não é alguém alienado em ilusões.

É importante salientar esta diferença porque é sobre este ponto que pessoas como Olavo de Carvalho, Rodrigo Constantino, Reinaldo Azevedo, Felipe Moura Brasil e toda essa turma se pautam para dizer que existe uma parcela enorme do povo sendo manipulada (os tutelados) e um pequeno pedaço não manipulado (os tutores, que coincidentemente são eles).

No bojo dos manipulados, estão inclusive os pesquisadores da academia (que podem, além de manipulados, ser manipuladores). Eles são os soldadinhos treinados para reproduzir a “ideologia comunista-gayzista” por todo o Brasil. No fundo, toda e qualquer ideia que se afaste de uma visão ultra individualista e cristã do mundo é fruto de um indivíduo manipulado ou manipulador.

Na verdade, o que se vê é uma forma de dizer quem deve ser escutado e quem não deve. Quem pode falar e quem não pode. Quando nós falamos que a agência é um privilégio de poucos, nós estamos dizendo que esses poucos valem mais. Eles são aqueles que devem ser obedecidos – mesmo que não digam ser líderes. Os alienados que votaram na Dilma não merecem ser escutados, seus votos nem mesmo merecem ser contados, é necessário duvidar da validade do voto de alguém que faz tal heresia.

A autoridade do discurso da verdade não é do povo, não é dos cientistas e não é da mídia: é de alguns iluminados que conseguiram encontrar a verdadeira essência do ser, o livre-mercado e o cristianismo. Mas essa essência, de onde ela vem?

O modo de vida natural

O indivíduo é constituído por tipos de saber e configurações de poder de uma dada época em um dado ponto do globo. Ele é o que é por conta das relações de poder estabelecidas entre indivíduos e outros indivíduos e entre indivíduos e instituições, mas também por conta dos discursos que o atravessam, que são impostos por essas relações de poder e que, ao mesmo tempo, dão legitimidade para sua imperiosidade.

Isso significa que não há um modo de vida natural depois do indivíduo ser introduzido na cultura. Não é possível falar em modo de vida neutro, natural ou imparcial depois de submeter o indivíduo à linguagem e não há nenhuma programação na mente humana que indique como a vida deve ser vivida originalmente em sociedade. Basicamente, quando nós falamos sobre cultura e sobre a condição humana sob ela, estamos afirmando que nenhuma configuração deste sistema simbólico é natural.

A cultura é, pelo contrário, uma repressão de instintos e uma abertura de possibilidades infinitas dentro dos significantes disponíveis e das significações imagináveis. É a oposição em relação à natureza, como já observado por Levi-Strauss. A cultura é a previsibilidade, a natureza é o caos.

Sendo assim, a vida “natural” é uma constante violência nua, um desarranjo interminável de práticas voltadas unicamente para a satisfação de prazeres sexuais e para a conservação de si. Já a vida em sociedade, que pressupõe a cultura, é o lar das regras e da repressão constante dos instintos. A consciência precisa ser marcada, para que uma estrutura mental possa definir as possibilidades de ações e de compreensão do mundo. É necessário que um habitus, um sistema de disposições, seja formado. O agente social não é pura ação e não é pura determinação.

Com isso, somente quero dizer que um modo de vida, seja ele qual for, sempre será legítimo. A legitimidade de algo não é determinada por uma conclusão ontológica sobre o ser e sobre a história, mas sim pela força com que este algo é imposto. É legítimo aquilo que consegue movimentar mais poder a seu favor e se utilizar de um tipo de saber para lhe justificar.

Mas o que significa dizer que existe um modo de vida natural? Dizer que existe um modo de vida “original”, que não é uma ilusão, é uma forma de dar autoridade para um modo de viver particular. É um jeito de universalizar o particular. É pura ideologia. Quando eu digo que o jeito que eu acho melhor de se viver é o jeito original, correto e livre, o que eu estou fazendo é dizer que este é o jeito que deve ser vivido. Estou impondo um interesse particular.

Portanto, dizer que uma alternativa, seja ela qual for, ao livre-mercado e aos valores cristãos é uma ilusão, é um plano maquiavélico, é ao mesmo tempo dizer que o modo de vida original, escolhido por consenso, natural, legítimo, é aquele que está sendo ameaçado, é o modo de vida capitalista.

Conclusão

O marxismo cultural é uma arma. É um discurso que se julga verdade ao denunciar tudo que não está em seus interesses como inimigo público número um. Se é necessário apontar para um inimigo em comum, que irá ser o objetivo da união dos singulares, então que ele seja o comunismo: tudo que não nos agrada é culpa do comunismo.

Ao mesmo tempo, é esse discurso que tenta justificar instituições desgastadas como a polícia. O aparelho policial inteiro é justificado pelo discurso do marxismo cultural, que se apoia na força dos homens honrados para proteger a nação. O que vemos com este discurso é a propagação do reacionarismo com roupagem nova, é a tentativa de aproveitar um momento de falta de engajamento geral para culpar o comunismo pela descrença geral na política.

Eu iria mais longe e diria que o comunismo é só o pretexto, é só o inimigo necessário, mas o objetivo em si é fortalecer tudo de conservador que existe e tentar anular algumas das pautas mais liberais conseguidas no Brasil devido às mudanças que o tempo trás consigo. No fim, uma briga dentro da própria direita, pelo direito de conquistar um espaço e que pode ser provada pelas intrigas infantis entre Olavo de Carvalho e Rodrigo Constantino (o liberalzão da turma) vide os vídeos no anexo abaixo.

É aqui que percebe-se que o liberalismo come a própria teoria ao afirmar a possibilidade da enganação sistemática, da possibilidade do sujeito ser presa de uma ilusão constante. A liberdade, que deveria ser o valor máximo e a realidade a priori de qualquer teoria liberal, é alienada (no sentido marxista) de sua própria teoria mãe em prol de uma estratégia mais eficiente de poder. De calar uns para dar voz a outros.


quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Doutrina Brejnev

A Doutrina Brejnev, chamada também de Teoria da Soberania Limitada, ou simplesmente Brejnevismo foi um conjunto de teorias socialistas criado por Leonid Ilitch Brejnev (1906-1982), em adaptação, revisionismo, e modernização do Marxismo-leninismo, para governar a União Soviética, tanto na política externa quanto internamente, durante a segunda metade do século, uma vez que a Rússia havia mudado muito desde as teorias de Lênin, e muito mais ainda desde as teorias de Marx e Engels. Esta doutrina também é considerada "neo-stalinista", por ser expansionista, agressiva, defender o culto da personalidade e a burocracia no estado. A doutrina fora primeiramente utilizada em 1968, durante as manifestações democráticas e libertárias na Tchecoslováquia, durante a chamada "Primavera de Praga", pois entre outras coisas, defende a hegemonia soviética no mundo comunista. Na prática, a doutrina limitou a independência de partidos comunistas em todo o mundo, não permitiu a saída de qualquer estado do Pacto de Varsóvia, estabeleceu o monopólio político do Partido Comunista, elevou o nível econômico das massas, a população inteira se encontrava no patamar da classe média americana, em exceção de 2,5% do povo, que estava abaixo deste nível; apenas 1,5% da população estava abaixo do nível de pobreza. Esta doutrina, apesar de envocar a paz, causou diversas guerras em nome da hegemonia soviética, entre elas se encontram as bem sucedidas revoluções socialistasem Angola e Moçambique, a invasão do Afeganistão a pedido do governo, a Guerra do Vietnã, o apoio à Indira Gandhi na Guerra do Paquistão, contra os Estados Unidos e China, e outros golpes fracassados em demais localidades (Belize, Guatemala, Congo, Benim e outros).  

Leonid Brejnev, o criador da Doutrina Brejnev  

Diante do movimento Primavera de Praga, Leonid Brejnev criou a doutrina, na qual defendia principalmente, entre outras coisas, que um Estado socialistapoderia interferir nos assuntos de outro Estado, com a finalidade de preservar o socialismo. Ele acreditava, que o país deveria intervir nos assuntos internos de seus aliados, acabar com a corrupção e privilégios de membros do partido, bloquear correntes ideológicas contrárias ao comunismo, e invadir os inimigos se necessário. Com esta doutrina, Brejnev transformou a URSS em uma das maiores potências militares do mundo, com o maior grau de poder e influência, além de ter levado seu povo à um alto grau de bem-estar socialista jamais visto em seu país, mas ao mesmo tempo, ao fim de seu mandato, e já com a saúde debilitada, mergulhou em uma crise tão profunda e sem precedentes, que acabou deixando aos seus sucessores uma verdadeira bomba na economia, Iuri Andropov e Konstantin Chernenko fizeram uma boa administração em relação a crise econômica no país, que se recuperava bem, mas a posse do poder soviético nas mãos do revisionista e ainda jovem e inexperiente Mikhail Gorbachov, que quando ministro da agricultura durante o governo Brejnev percebeu que era necessária uma mudança profunda na economia, representou um perigo na gestão do país, que apenas se endividou ainda mais e que em meio a revoltas e manifestações populares, precisou usar do capitalismo para se salvar.[3] Na década de 70, devido ao alto custo dos armamentos e de um atraso tecnológico crescente, enfrentou uma paralisação no crescimento econômico da URSS; mesmo assim, em 1979, ordenou a invasão doAfeganistão, numa primeira investida fora dos países do Pacto de Varsóvia, que se transformou numa espécie de Vietnã soviético, durando os combates até 1989, em plena Era Gorbatchev. Ela foi usada pelos dois sucessores de Brejnev em seus breves governos, o de Andropov e de Thernenko, e mais tarde substituída por uma doutrina extremamente contraria e infiel ao pensamento de Brejnev, a Doutrina Sinatra, derivada da canção do artista "My Way" (Meu Rumo), enfatizando que cada país deveria seguir seu próprio rumo.

O Fim da URSS.

União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) terminou em 8 de novembro de 1991.

Sem condições de acompanhar os avanços tecnológicos ocidentais e manter um nível de qualidade para a população, a URSS foi declinando lentamente.

Igualmente, as repúblicas que formavam a União Soviética exigiam mais autodeterminação e liberdades políticas.

Principais Causas

Vários são os motivos para que  URSS entrasse em colapso:

  • Crise desencadeada pelo modelo econômico que impunha a população a viver com a escassez de muitos bens de consumo;
  • Reformas mal conduzidas que levaram à deterioração da qualidade de vida da população;
  • Descontentamento popular com a oferta de produtos, principalmente alimentos;
  • As diferenças de qualidade de vida entre os cidadãos da URSS e os do bloco capitalista;
  • Concentração do poder;
  • Enfraquecimento do poder central;
  • O autoritarismo, com a censura à imprensa e as mais diversas formas de manifestações populares;
  • Controle da Igreja e demais religiões;
  • Enfraquecimento da disciplina do Partido Comunista devido à divisão ideológica;
  • Guerra fria e a pressão do Ocidente.

Resumo

Em 1985,Gorbachev assumiu a secretaria do Partido Comunista e colocou em prática os planos da perestroika(reestruturação) e glasnost (transparência).

Esta política pretendia:

  • modernizar a economia da Rússia;
  • reduzir a participação do Estado na economia;
  • diminuir a interferência do governo nas questões civis.

Rapidamente, o modelo demonstrou sinais de ineficiência. A União Soviética precisou reduzir os gastos militares, passou a interferir menos nos problemas políticos dos países socialistas e também limitou o auxílio econômico a essas nações.

Assim, os soviéticos retiraram suas tropas do Afeganistão, sem terem conseguido a vitória que desejavam.

Igualmente, os países do Leste Europeulutavam por mais liberdades. Em 1989, a população de Berlim derrubou o muro que separava a cidade e precipitou a reunificação da Alemanha.

Populações de países como Tchecoslováquia, Hungria, Bulgária, Polônia e Romênia também foram às ruas para exigir mudanças e mais democracia.

Ao contrário do que havia acontecido em anos interiores, quando as tropas soviéticas intervinham, desta vez os soldados ficaram nos quartéis.

Desta maneira, estes países puderam se redemocratizar e muitos ingressaram na União Europeia.

sábado, 8 de setembro de 2018

Bacias hidrográficas brasileiras.

Bacia hidrográfica corresponde a uma área drenada por um rio principal, seus afluentes e subafluentes. A topografia do terreno é responsável pela drenagem da água, além de ser responsável por delimitar as bacias, ou seja, as partes mais altas do relevo determinam para onde as águas da chuva irão escoar. 

O Brasil é um país privilegiado quando o assunto é disponibilidade de água-doce – 14% das reservas mundiais de água-doce estão no território brasileiro. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), o país possui 12 bacias hidrográficas, que estão distribuídas por todo o território nacional. Veja a localização no mapa e as principais características de cada uma delas: 


Bacias hidrográficas do Brasil 

Bacia Hidrográfica Amazônica 
É considerada a maior bacia hidrográfica do planeta, responsável por drenar água de uma área de aproximadamente 7 milhões de quilômetros quadrados. No Brasil, ela compreende uma área de 3.870.000 km², apresentando grande potencial para geração de energia hidrelétrica, além de possuir características propícias para o transporte fluvial. 

Bacia Hidrográfica do São Francisco 
Importante meio de ligação entre as Regiões Nordeste e Sudeste, a bacia do São Francisco possui cerca de 640 mil quilômetros quadrados. Apresenta extensos trechos navegáveis, além de grande potencial hidrelétrico. O garimpo, a mineração, a irrigação e a poluição hídrica ameaçam a qualidade dos rios dessa região. 

Bacia Hidrográfica do Tocantins-Araguaia 
Com 967.059 quilômetros quadrados, essa é a maior bacia hidrográfica exclusivamente brasileira. Seu potencial energético é explorado, com destaque para a usina hidrelétrica de Tucuruí, no estado do Pará. 

Bacia Hidrográfica do Paraná 
A bacia do Paraná, presente no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, possui rios de planalto e encachoeirados, perfeitos para a instalação de hidrelétricas. Esse potencial é aproveitado pelas usinas de Ilha Solteira, Itaipu, Capivari, Engenheiro Sérgio Mota, Água Vermelha, etc. 

Bacia Hidrográfica do Parnaíba 
Abrangendo uma área de aproximadamente 340 mil quilômetros quadrados, essa bacia hidrográfica está presente nos estados do Piauí, Maranhão e na porção oeste do Ceará. Os principais rios são o Balsas, Uruçuí-Preto, Gurgueia, Longá, Poti e Canindé. 

Bacia Hidrográfica do Uruguai 
Essa bacia está presente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O principal rio, o Uruguai, nasce da confluência dos rios Canoas e Pelotas. Suas características são propícias para a construção de usinas hidrelétricas. 

Bacia Hidrográfica do Paraguai 
A bacia hidrográfica do Paraguai é típica de planície, apresentando grandes extensões para navegação. No Brasil, ela está presente nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, englobando uma área de 361.350 quilômetros quadrados. Tem como principal rio o Paraguai, que nasce na Chapada dos Parecis (MT). 

Bacia Hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental 
A bacia do Atlântico Nordeste Oriental é responsável por drenar água de uma área de 287.348 quilômetros quadrados, compreendendo os estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Os principais rios são o Beberibe e Capibaribe, além do Jaguaribe, considerado o maior rio intermitente (temporário) do mundo. 

Bacia Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental 
Situada nos estados do Maranhão e Pará, essa bacia hidrográfica possui 254.100 quilômetros quadrados. Os principais rios perenes são: Mearim, Itapecuru e Turiaçu. 

Bacia Hidrográfica Atlântico Leste 
A bacia do Atlântico Leste, com 374.677 quilômetros quadrados, abrange territórios de Sergipe, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. O Rio Jequitinhonha se destaca nessa área de drenagem. 

Bacia Hidrográfica Atlântico Sudeste 
Formada pelos rios Doce, Itapemirim, São Mateus, Iguape, Paraíba do Sul, entre outros, a bacia hidrográfica do Atlântico Sudeste está presente nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, correspondendo a uma área de 229.972 quilômetros quadrados. 

Bacia Hidrográfica Atlântico Sul 
Com predominância de rios de pequeno porte, essa bacia hidrográfica possui 185.856 quilômetros quadrado. Seus rios desaguam no Oceano Atlântico.

domingo, 2 de setembro de 2018

A Geopolítica da Fome

                                 Jean Ziegler e a geopolítica da fome Jean Ziegler and hunger geopolitics
Katia Hale7*
Destruição em massa — geopolítica da fome é o mais novo livro de Jean Ziegler lan‐ çado no Brasil, traduzido e prefaciado pelo professor José Paulo Netto. Embasado em experiências durante seu trabalho na relatoria do direito à alimentação da ONU entre 2000 e 2008, como sua atuação no Conselho de Direitos Humanos da mesma instituição, o autor discorre sobre a geopolítica da fome e a devastação causada pelo fenômeno. Con‐ tumaz estudioso, pesquisador e militante no combate à fome, nos traz à lembrança Josué de Castro, intelectual e militante brasileiro cujo pensamento é resgatado na obra em questão. No livro, dividido em seis partes, o autor analisa, denuncia e sugere alternativas para a destruição em massa pela fome.
Na primeira parte, o pensador suíço descreve a extensão da destruição em massa pela fome, culminando na subalimentação de homens, mulheres e crianças em todo o mundo. Na geopolítica da fome, os países do
* Assistente social, professora no curso de Serviço Social das Faculdades Metropolitanas Uni‐ das (FMU), mestre em Serviço Social pelo programa de ensino pós‐graduado em Serviço Social na PUC‐ ‐SP, São Paulo (SP), Brasil, doutoranda no mesmo programa. E-mail: katiahale@gmail.com.
Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 122, p. 381-386, abr./jun. 2015
http://dx.doi.org/10.1590/0101-6628.028
hemisfério sul são os perdedores. Exemplo gritante são as mais de 500 mil mulheres que morrem anualmente ao realizarem o parto, a maioria pela falta prolongada de alimentos durante a gravidez. As sobreviventes não têm como alimentar seus filhos, nem condições para comprar alimentos que substituam o leite materno.
A contagem de famélicos realizada pela FAO/ONU apresenta falhas, segundo estudiosos citados pelo autor. Bernard Maire e Francis Delpeuch são dois dos autores que apresentam críticas pertinentes quanto ao modelo de cálculo utilizado pela FAO/ONU. As estatísticas determinam os déficits em termos de calorias (proteínas, glicídios e lipídios), ou seja, os alimentos que fornecem energia, não considerando a deficiência da população no que se refere aos micronutrientes (carência de vitaminas, minerais e oligoelementos). Nessa direção, afirma o autor, de Destruição em massa — geopolítica da fome: “a ausência de iodo, ferro, vitaminas A e C, entre outros, são indispensáveis à saúde e sua ausência gera cegueira, mutilações e a morte de milhões de pessoas”. Outra crítica que procede em relação ao método é a confiabilidade dos dados fornecidos pelos Estados nacionais, já que incontáveis países do hemisfério sul não dispõem de método científico adequado para a contagem da população, sendo que as vítimas da fome, em sua maioria, lá se encontram. Acrescentamos que os dados ofi‐ ciais de países que possuem caminhos para verificar a realidade são questionáveis, já que o aferimento de dados verdadeiros a res‐ peito dessa realidade compromete governos,
RESENHA
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                                eleições e o repasse de verba por organismos internacionais. A ideologia tecnocrata do Estado burguês transforma a realidade em quantidade, não fazendo análises qualita‐ tivas, nem as mediações necessárias para compreensão da realidade. Dessa forma, dependendo do momento e dos interesses de cada Estado, os números oscilam para mais ou para menos. Em relação ao número de famintos fica a questão: quantos são os que sofrem com a fome subalimentar e a má alimentação (fome de micronutrientes) em todo o mundo?
A maioria dos seres humanos que não têm o suficiente para comer, segundo o autor, localiza‐se nas comunidades rurais pobres dos países do hemisfério sul. É histórica a condição de miséria e fome dos campo‐ neses e, atualmente, eles correspondem a aproximadamente 500 milhões vivendo em condição de extrema pobreza. A miséria de agricultores, criadores e pescadores se apresenta por três razões: frequentemente são trabalhadores migrantes arrendatários, superexplorados pelos proprietários, ou ainda, a dimensão e a qualidade da terra são insuficientes para alimentar a sua família. Para superar o problema, o Banco Mundial sugere a reforma agrária assistida, ou seja, o latifundiário abre mão de parte de suas terras, mas o trabalhador rural deve comprar a sua parcela com o financiamento do referido banco, proposta que se constitui numa “piada de mau gosto”.
A violência é endêmica em alguns países. Não bastasse a destruição pela fome do homem do campo, na tentativa de lutar por um pedaço de terra, ele é morto sem
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que qualquer medida seja tomada. Esses trabalhadores estão, de forma planejada, invisíveis aos olhos do Estado e das elites nacionais. Exemplifica o autor com o número de mortos na Guatemala em 2005: 4.793 as‐ sassinatos. Tanto na América Central quanto na América do Sul, na Índia, no Paquistão e em Bangladesh, a luta para se manter num pedaço de chão ou para saciar a fome é motivo de chacinas e torturas: “A dor do vazio no estômago é calada com um tiro à queima‐roupa”.
Na geopolítica da fome, o hemisfério sul foi o mais prejudicado na sequência da crise econômica de 2008. Falências, fechamento de fábricas e ondas de desemprego. Menores investimentos em políticas sociais e injeção de recursos para “socorrer banqueiros de‐ linquentes”, na apropriada expressão usada por Ziegler. Em 2009, o Banco Mundial anunciou: o número de pessoas vivendo na extrema pobreza aumentaria em mais 89 milhões, e a quantidade de pobres cresceria em mais 120 milhões.
O despertar das consciências é o tema da segunda parte da obra. Nela é demonstrada a fome como fatalidade sob a errônea visão de Malthus, um mal necessário propalado em 1798 e que ainda se mantém. Resgata o pensamento de Josué de Castro, afirmando que fora quebrado, logo após a Segunda Guerra Mundial, o tabu da fome. Fez‐se ouvir o grito dos famintos na luta do médico pernambucano, declara. Lançando mão da geografia humana, Castro localiza a fome como problema provocado pelo homem, não existindo obstáculos “naturais” para se acabar com ela. O progresso desejado
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                                naquele período da história dependeria so‐ mente da intervenção planejada do Estado e da cooperação dos “homens de boa vontade”. As análises de Castro encontram eco na Europa devastada do pós‐guerra, no entanto, a ONU e, posteriormente, a FAO, fundadas no período, não apresentaram os resultados esperados. Atualmente, denuncia o autor, mais de 40% dos homens, mulheres e crian‐ ças do Recife vivem nas sórdidas favelas que margeiam o Capibaribe. Mais de 1 milhão de pessoas moram ali, sem fossas sépticas, esgotos, água corrente e eletricidade. “O homem caranguejo continua sobrevivendo.”
Na terceira parte da obra, o sociólogo em tela denuncia os grupos econômicos do setor agrícola. As duzentas maiores empresas que controlam cerca de um quarto da produção mundial com lucros astronômicos dominam não apenas a formação dos preços e o comér‐ cio de alimentos, mas os setores essenciais da agroindústria, quais sejam: sementes, adubos, pesticidas, estocagem, transportes etc. Entre as dez sociedades que controlam um terço do mercado de sementes estão a Aventis, a Monsanto, a Pioneer e a Syngenta, setores que movimentam aproximadamente 23 bilhões de dólares por ano e 80% do mercado mundial de pesticidas, gerando um volume estimado em 28 bilhões de dólares. A Cargill está entre as dez sociedades que controlam o mercado varejista em todo o mundo, 57% das vendas e 37% das receitas das cem maiores sociedades fabricantes de produtos alimentícios e de bebidas. Somente seis empresas detêm 77% do mercado de adubos: Bayer, Syngenta, Basf, Cargill, DuPont e Monsanto. É comum as sociedades
transcontinentais argumentarem que a fome é uma tragédia cuja responsabilidade é da produtividade insuficiente da agricultura mundial. O discurso se dirige a incrementar a produtividade por meio da industrialização levada ao limite, afirma o autor, com inves‐ timento de capital e de novas tecnologias, o que equivale inserir as sementes transgênicas na produção, assim como os pesticidas, eli‐ minando a “improdutiva” agricultura fami‐ liar e de víveres e seguindo a liberalização o mais completa possível do mercado mundial. Nesse sentido, afirma que “há mais de duas décadas as privatizações, a liberalização dos movimentos das mercadorias, serviços, capitais e patentes, avançaram assombrosa‐ mente”. Os Estados pobres do Sul perderam sua soberania, as fronteiras desapareceram e as políticas públicas foram privatizadas. Eis o neoliberalismo orquestrado pela OMC, pelo FMI e pelo Banco Mundial, com total apoio dos Estados. Resultado: desemprego, aumento das vítimas da subalimentação e da fome.
A ruína do Programa de Alimentação Mundial (PAM) e a impotência da FAO é assunto da quarta parte do livro. O PAM tem como missão levar ajuda humanitária de urgência, e em 2010 contava com 90 milhões de famintos em sua lista. Os Estados Uni‐ dos forneciam aproximadamente 60% das contribuições do PAM, porém, as doações em espécie reduziram‐se quase 80% “em função da produção em larguíssima escala de agrocarburantes, atividade sustentada por bilhões de dólares de subsídios públicos”. Aponta nessa observação o ciclo perverso e contraditório do qual depende a missão do
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                                PAM para sua realização. Inegável a neces‐ sidade do trabalho desenvolvido pelo PAM, mas observa‐se que o programa alimenta seres humanos vivendo em países ou regiões que sofreram catástrofes que poderiam ser evitadas. Ziegler dirige críticas a FAO/ONU, mas defende sua importância e a forma como operava quando fundada. Certo é que as ambiciosas atribuições da FAO nunca foram levadas a cabo. Se as sociedades transnacio‐ nais privadas se posicionam contra a FAO hoje, também no passado o capitalismo monopolista não permitiu que a instituição cumprisse seu papel. No discurso de despe‐ dida da FAO, Josué de Castro, desiludido com o que se poderia chamar de “indústria da fome”, denunciou o complô dos países mais ricos contra os mais pobres e confessou a sua decepção frente à inoperância daquele organismo.
O autor discorre sobre os abutres do “ouro verde” na quinta parte do livro, afir‐ mando ser falso o argumento das sociedades transcontinentais, produtoras de agrocarbu‐ rante, de que a energia vegetal seria a arma milagrosa contra a degradação do clima. Ele nos alerta: se cerca de 500 milhões de hecta‐ res de terras aráveis africanas têm seu solo degradado, se a destruição do ecossistema e a degradação da zona agrícola em todo o mundo arrastam os emigrantes do meio am- biente para as favelas das grandes metrópo‐ les, os produtores de agrocarburantes são os responsáveis. Tal produção demanda água, causando ainda maiores prejuízos aos que sofriam com falta de água potável, energia e a utilização de pesticidas, que contaminam rios e matam crianças em todo o mundo. É
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o presidente da Nestlé quem diz: “Com os biocarburantes, jogamos na pobreza mais extrema centenas de milhares de seres humanos”. Os mais poderosos produtores de biocarburantes do mundo são de origem norte‐americana.
É dedicada atenção à maldição da cana‐de‐açúcar, tomando como exemplo o Brasil, não sem motivos. No papel de rela‐ tor especial sobre o direito à alimentação, Ziegler combateu o Proálcool e, na ocasião, o então ministro Vannuchi e o presidente Lula usaram argumentos de que a cana não era comestível e que, ao contrário dos Es‐ tados Unidos, os brasileiros não queimam milho e trigo. Hipocrisia. A implementação do Proálcool tem transformado a geografia agrária, a começar pela concentração de ter‐ ras. Publicação da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos de março/2012 revela que 45% do etanol produzido em escala mundial sai do Brasil. Das 435 usinas instaladas no país, a corporação Raízen, formada a partir da fusão Cosan‐Shell, é a maior produtora de etanol e uma das cinco maiores empresas que aqui operam. As empresas têm acesso privilegiado a créditos e diversas formas de subsídios estatais. A insegurança alimentar na qual vive grande parte da população brasileira, afirma o autor, tem como respon‐ sável o Proálcool. O autor conclui afirmando que as práticas da escravidão persistem e que as crianças subalimentadas do Vale do Capibaribe e os desdentados cortadores de cana não têm qualquer chance de vencer o poderoso bioetanol. A violenta recolonização se estende a países da Ásia, América Latina e África, e para a aquisição de terras, os
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                                monopólios contam com financiamento de bancos públicos.
Os especuladores e a forma como ope‐ ram é o tema da sexta e última parte do livro. É recente a migração dos especuladores que operavam no mercado financeiro para o mercado de matérias‐primas, especialmente o agroalimentar, que inclui a especulação do preço dos alimentos e da terra arável. No jogo do aumento dos preços dos alimentos, o arroz, o milho e o trigo, alimentos de base, milhares de pessoas são atiradas na fome, como ocorrido em 2008, durante a crise econômica. A exploração dos preços em 2011 também colocou na situação de fome 44 milhões de crianças, mulheres e homens. Não haveria crise alimentar sem especulação, declara Olivier Shutter, suces‐ sor de Ziegler no cargo de relator especial das Nações Unidas sobre a alimentação. Marc Roche, citado pelo autor, associa o combate contra a especulação e a luta contra os paraísos fiscais. O autor denuncia a Suíça, apontando que 27% de todos os patrimônios offshore do mundo são geridos naquele país. Os especuladores, após a crise alimentar de 2008 e 2011, avançaram em direção à compra de terras, fazendo crescer de modo acelerado tais investimentos. O autor revela indicadores de açambarcamento de terras no hemisfério sul do globo, evidenciando o continente africano, que, em 2010, vendeu ou arrendou 41 milhões de hectares de terras aráveis com o envolvimento, para tanto, dos bancos e fundos de investimentos suíços. Tais investidores têm como parceiro a Cosan, men‐ cionada anteriormente. Uma das subsidiárias da Cosan, Radar Propriedades Agrícolas, está
voltada para o mercado imobiliário rural, e seu objetivo é adquirir imóveis potencial‐ mente valorizáveis. Eles compram terras e, posteriormente, arrendam ou utilizam para própria produção, operando, dessa forma, grande especulação e aumento no preço da propriedade. Controlam grandes áreas agri‐ cultáveis, haja vista seu modelo de produção. Além da cana‐de‐açúcar, controlam proprie‐ dades destinadas ao cultivo de soja, milho e eucalipto. A consequência social última é a miséria e a fome. “Especulando a terra, espe‐ culam com a morte.” O autor destaca ainda o Banco Mundial como um dos cúmplices dessa tragédia: “O Banco Mundial, de fato, financia o roubo de terras aráveis na África, na Ásia e na América Latina”. E acrescenta: “[...] tem o peso do Evangelho no Conselho de Direitos do Homem das Nações Unidas”.
A análise realizada pelo autor para a destruição em massa pela fome revela inúmeros e verdadeiros determinantes, mas a porta de saída para sua superação não se encontra nos instrumentos da democracia política, não se encontra na vontade política do Estado, como quer crer o autor. Infeliz‐ mente, o discurso que se generalizou após a queda do Muro de Berlim e o fracasso da experiência soviética — entendido como a impossibilidade do socialismo real e da inviabilidade prática do comunismo — ca‐ minha na mesma esteira. É comum, inclusive entre grupos de esquerda, a defesa de injetar democracia no capitalismo e de compatibi‐ lizar a teoria de Marx à defesa dos direitos humanos, acreditando que serão garantidos pelo Estado. Tanto assim, que qualquer crítica aos direitos humanos soa como uma
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                                heresia totalitária. Dessa forma solucionam um falso problema, que só nasceria da desconsideração do sentido específico da critica de Marx da política, em geral e dos direitos humanos em particular. O direito, em Marx, não possui uma história própria, não se fundamenta em uma vontade livre. Ao contrário, está enraizado nas relações mate‐ riais de produção, mais especificamente nas relações de propriedade privada dos meios de produção. Esse nos parece ser o limite da crítica social: o Estado perdeu seu caráter de classe, e o problema central do capitalismo deixa de ser ele próprio e suas contradições, voltando‐se para o problema das grandes corporações e de sua apropriação do espaço político dos centros de decisão, como que, se exterminadas, avançaríamos rumo a um capitalismo humanizado, o que por si só é uma contradição.
Entendemos, dessa forma, que o texto de Jean Ziegler é uma obra de referência para as ciências sociais e áreas afins e, certamente,
deve fazer parte da biblioteca contemporânea dos estudos sociais sobre o fenômeno da fome no Brasil e no mundo.
Recebido em: 8/9/2014
Aprovado em: 9/3/2015
Referências bibliográficas
ZIEGLER, Jean. Destruição em massa: geopolítica da fome. São Paulo: Cortez, 2013.
XAVIER, Carlos V.; PITTA, Fábio T.; MEN‐ DONÇA, Maria Luisa. Monopólio da pro- dução de Etanol no Brasil: a fusão Cosan‐ Shell. Publicação da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos. São Paulo: Outras Expressões, 2012.
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quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Estados Nacionais

O termo "Estados Nacionais" costuma ser utilizado para designar o resultado da dinâmica política e econômica que levaria a uma nova formulação de Estado nos reinos europeus, possibilitando o fortalecimento e subsequente centralização do poder real.

Durante a Idade Média, a Europa em geral seria caracterizada pela forte presença política dos senhores feudais. Junto com a influência da Igreja, isso acabaria por assegurar a fragmentação do poder durante o período. No século XIV, porém, este sistema afundou em uma forte crise depois da desagregação social causada pela epidemia de peste bubônica, que em muito agravaria a crescente paralisação do mercado agrícola. Neste contexto, ocorreu a ascensão da burguesia. Anteriormente mais predominante nas atividades comerciais das cidades feudais, o grupo se tornaria cada vez mais influente ao adquirir as terras dos arruinados senhores feudais, o que lentamente alteraria o eixo da economia para as atividades comerciais no meio urbano. Isso desenvolveria substancialmente o comércio.

A diminuição do poder dos senhores feudais também levaria ao fortalecimento político dos reis. Aliados com a ascendente burguesia, os monarcas tiveram maior possibilidade de arrecadar os impostos necessários para desenvolver e manter as instituições necessárias para a administração e segurança pública. Os recursos para isso eram garantidos por meio da promoção da economia mercantil. Ao mesmo tempo em que beneficiava a burguesia, entretanto, o rei ainda cultivava o apoio da nobreza, reforçando os laços de fidelidade entre eles ao atraí-los para a corte e promovendo seus membros mais destacados para importantes cargos no Estado. Desta forma, a nobreza perdia sua autonomia e se tornava subserviente ao rei. Ao mesmo tempo, as fronteiras tornavam-se melhor definidas, gerando paulatinamente o sentimento de uma identidade nacional pelo reino.

A maioria dos reinos europeus passou mais cedo ou mais tarde por este processo. Um caso precoce foi Portugal, consolidado já no século XIII, apesar de ter sua independência frequentemente ameaçada pela vizinha Castela – que, por sua vez, apenas se uniria com Aragão e formaria a Espanha moderna no século XV. As monarquias em França e Inglaterra também mostrariam cedo sinais de fortalecimento do poder real, mas apenas depois da Guerra dos Cem Anos travada entre ambos desde o século XIV – e, especificamente no caso inglês, a Guerra das Duas Rosas, que opôs a Casa Lancaster e a Casa York no século XV – foi que o poder real se consolidou respectivamente com a dinastia Valois e a dinastia Tudor. Esse processo de centralização política acabaria por resultar, mais tarde, na formação de um sistema característico da Era Moderna: o absolutismo, que encontraria sua expressão mais famosa em França com Luís XIV, o Rei Sol.

Entretanto, em algumas regiões o processo que levaria ao Estado Nacional não seria completado neste período. Embora tanto no Sacro Império Romano Germânico quanto na Península Itálica ocorresse a crise do feudalismo e o início da centralização política, as forças regionais foram fortes demais para que fosse possível a consolidação de um poder central. Assim, ambas as regiões seriam politicamente fragmentadas durante a Era Moderna. Enquanto o Império possuía vários ducados, reinos e cidades independentes, na Península Itálica muitas terras foram dominadas por potências estrangeiras ou eram subordinadas à Igreja. As modernas nações conhecidas como Alemanha e Itália apenas surgiriam no século XIX.

Bibliografia:

LIMA, Lizânias de Souza; PEDRO, Antonio. “Das monarquias nacionais ao absolutismo”. In: História da civilização ocidental. São Paulo: FTD, 2005. pp. 141-145.